segunda-feira, 1 de junho de 2009

NEURÔNIOS-ESPELHO




NEURÔNIOS-ESPELHO


Quando você olha num espelho o que você vê? Bem, você vê seu rosto é claro, mas no seu rosto você vê humores, mudanças de sentimento.

Nós humanos somos realmente bons em leitura facial e corporal, porque podemos olhar para outra pessoa e sentir o que ela está sentindo, podemos aprender com os outros, a nos conectar e amar.

Empatia é um dos nossos traços mais admiráveis e, quando ela acontece, acontece tão facilmente talvez porque - e esta é uma ciência muito nova, recém saída do laboratório – podemos ter alguns circuitos especiais em nosso cérebro que nos ajudam, quando quer que olhemos uns para os outros.

Pergunte a si mesmo: Por que as pessoas se envolvem tanto, tão profundamente, com tal angústia, tal sofrimento, numa tensão de roer as unhas, com o futebol? Por que somos tão doidos por esporte? E não é apenas o esporte. Podemos nos entregar completamente durante um filme, vídeo games, assistindo a um balé.

Existe alguma coisa sobre os humanos – particularmente os humanos – que nos permite conectar tão profundamente quando observamos outras pessoas - observando-os moverem-se, observando-os jogando, observando seus rostos?

Bem, se isso acontece, os cientistas têm uma explicação para esta estranha habilidade de conexão. Isto é novo. Nunca tinha sido achado em nível celular antes. Isto é, um conjunto de células cerebrais encontrado em cada lado da cabeça. Em meio aos bilhões de longas células ramificadas em nosso cérebro, os assim chamados neurônios-espelho tem um poder surpreendente.

Segundo Daniel Glaser, “O que encontramos é o mecanismo que reforça alguma coisa que é absolutamente fundamental na maneira como vemos as outras pessoas no mundo”.

E isso começou completamente por acidente num laboratório, na adorável antiga cidade de Parma, na Itália, onde um grupo de pesquisadores do cérebro estava trabalhando com macacos. E eles estavam testando um neurônio – isto, é uma célula do cérebro – que sempre que disparava fazia este barulho (estática), quando o macaco agarrava um amendoim. Então, o laboratório tinha amendoins espalhados por todo lado e quando queriam que o macaco fizesse seu movimento (estática) o neurônio disparava. Os cientistas pensaram: “Aqui está um neurônio que é essencial ao movimento. É um neurônio motor”. Então, um dia, o macaco estava apenas sentado por perto, sem fazer um movimento, apenas sentado, quando um cientista entrou no laboratório. E quando o cientista pegou o amendoim... Sim, a célula do macaco disparou. Mas, o macaco não tinha se movido – foi o humano que se moveu – sugerindo que este neurônio não poderia dizer a diferença entre ver alguma coisa e fazer alguma coisa. Ver e fazer eram a mesma coisa. Ou o mais intrigante que, para este neurônio, observar alguém fazendo alguma coisa é o mesmo que fazê-la você mesmo. O chefe do laboratório, Giacomo Rizzolatti exclamou: “Uau!”. De acordo com Rizzolatti, “é o mesmo neurônio que está envolvido em ambos os casos, isto é, quando o macaco observa alguma coisa e quando o macaco está fazendo alguma coisa. Isto é quase inacreditável”.

Isto é surpreendente porque esta célula que estava envolvida com o planejamento motor no macaco se tornou interessada no movimento de outras pessoas também.

Algumas pessoas os chamam de neurônios: “o macaco vê o macaco faz”, mas o nome que se dá é “neurônios-espelho”, porque com eles o cérebro parece refletir os movimentos que vê. Esta descoberta acidental fez os cientistas pensarem em fazer mais testes e logo ficou perfeitamente claro que isto não é coisa apenas de macaco: é coisa de pessoas também. Todos nós sabemos que os humanos aprendem olhando e copiando. Isto é o que as crianças fazem. Primeiro elas olham e então fazem. E, uma vez que tenham visto e copiado e aprendido um conjunto de movimentos, elas não apenas os tem em suas cabeças, mas sim agem através do aprendizado. Se você vê mais alguém fazendo isto, você pode compartilhar a experiência, porque sabemos os movimentos. Podemos nos mover com eles.

Para Glaser, “se você puder usar os anos de treinamento que você mesmo teve, aprendendo a engatinhar, e então aprendendo a andar, então aprendendo a comer, isto é um conjunto incrivelmente rico de conhecimento que você pode aplicar ao problema para de fato entender o que está acontecendo”.

Então é por isso que quando descemos, por exemplo, uma rua carregando muitos pacotes, não apenas as pessoas olham como também elas sentem a nossa situação, porque elas sabem o que é carregar pacotes pesados. Todas elas sabem o que é carregar. Então, conforme elas nos observam em movimento, elas se sentem em movimento. Os seus neurônios estão espelhando a ação. Estes neurônios podem ser a forma do cérebro de traduzir o que vemos de forma que podemos nos relacionar com o mundo.

O sistema espelho é a maneira como você toma contato, a maneira que você ativa suas habilidades e como você as projeta no mundo.

Sabe-se então que as pessoas são realmente boas em observar e traduzir o que veem. Testes demonstraram que, quando uma pessoa vê um filme que tenha a representação de seu próprio movimento, ele vai reconhecê-lo imediatamente como seu. E é por isso que fãs do esporte se tencionam com a ação e encolhem-se e pulam, porque se você conhece o jogo... Então seus neurônios estão disparando como se você estivesse jogando, dando um significado totalmente novo à frase “jogador de poltrona”. É por isso que é tão fácil ser um fã do esporte.

E tem mais... O Professor da UCLA, Marco Iacoboni sugere que os neurônios-espelho nos ligam não apenas às ações das outras pessoas, mas aos sentimentos das outras pessoas. Então a idéia era tentar descobrir como o sistema de emoções e o sistema motor estão conectados.

Numa experiência de laboratório, Iacoboni colocou um voluntário dentro de um scanner e pediu que o mesmo observasse uma porção de rostos. Pediu que o ele imitasse cada rosto que aparecia na tela, enquanto mapeava e gravava as imagens do cérebro do voluntário, enquanto ele movia seus músculos faciais.

Em seguida Iacoboni pediu ao voluntario para que fizesse de outra forma. Ele disse: Agora vou mostrar os mesmos rostos, mas desta vez não mova um músculo, apenas olhe...

Quando os resultados foram checados, observou-se que a parte do cérebro que estava funcionando quando o voluntário fez uma careta, era a mesma parte ficava ocupada quando ele olhava a mesma careta. Mais ainda, quando ele estava olhando para os rostos tensos, ele se sentia bastante desconfortável, sentia-se mal. Mas quando as faces destencionadas apareciam, ele se sentia melhor, quase feliz. E, no momento em que ele estava olhando para os rostos felizes, em seu cérebro aparecia uma área vermelha, que mostrava a atividade na área emocional “feliz”. E quando estava imitando rostos felizes... ele conseguia uma resposta ainda maior. Isto, diz Iacoboni, é um resultado consistente. Os neurônios-espelho podem mandar mensagens para o sistema límbico, ou emocional, em nossos cérebros. Então é possível que estes neurônios nos ajudem a sintonizar com os sentimentos uns dos outros. Isto é empatia. Nós acreditamos fortemente que este é um mecanismo de unificação que permite às pessoas realmente se conectarem num nível bem simples.

O pesquisador está dizendo que existe um lugar no nosso cérebro cuja função é viver na mente de outras pessoas, viver no corpo de outras pessoas. Grandes atores sabem instintivamente que, se eles colocarem dramas e sentimentos em seus corpos, nossos rostos e nossos corpos responderão. Os atores são experts em usar seus movimentos para inspirar sentimentos nas pessoas que estão assistindo. Estes são os experts no sistema espelho.

Segundo o Dr. Ramachandran, “Nós somos criaturas intensamente sociais. Literalmente lemos as mentes das outras pessoas. E não estou dizendo nada psíquico, como telepatia. Mas podemos adotar o ponto de vista de outra pessoa”.

Então, se o neurônio-espelho nos ajuda a conectar emocionalmente, como ficam aquelas pessoas que tem autismo? Para Ramachandran, já é conhecido há certo tempo que crianças com autismo podem ser perfeitamente inteligentes, mas têm um profundo déficit na interação social. Elas podem falar e ler e escrever, mas como muitas crianças com autismo, vão evitar o contato visual. Elas freqüentemente não entendem perguntas.

Todos querem saber o que exatamente causa isso. Então o Dr. Ramachandra e sua estudante de graduação Lindsay Shenk planejaram um experimento. Eles foram ler ondas cerebrais de um autista, gravaram ondas cerebrais enquanto a criança abria e fechava as mãos e enquanto ela olhava para um filme das mãos de outra pessoa. Para a maioria das pessoas as ondas cerebrais parecem as mesmas de qualquer forma, estejam elas fazendo ou olhando. Mas para as crianças com autismo as ondas mudam, sugerindo possivelmente que o autismo tenha algo a ver com neurônios-espelho “quebrados”. Os cérebros deles podem realmente ser diferentes neste aspecto, e eles podem ter deficts no sistema de neurônios-espelho. Mas ainda não se tem certeza disto ainda. Um estudo adicional precisa ser feito, usando imagens do cérebro.

Mas o que realmente sabemos, diz Ramachandran, é que seres humanos saudáveis são intensamente sociais. Mais que nossos primos macacos, inventamos formas de nos conectar. Inventamos danças, apertos de mão e jogos. Comemos juntos, nos encontramos e conversamos. Conversamos bastante.

Portanto, todos estão interessados nesta pergunta: O que faz os humanos únicos? O que nos faz diferentes dos grandes macacos, por exemplo? É porque podemos fazer humor - somos os “bípedes risonhos”. A linguagem certamente, ok? Mas outra coisa é cultura. E muito da cultura vem por imitação, observar seus professores fazerem algo.

Ramachandran propôs que, num momento chave de nossa evolução – este é o palpite dele – nossos neurônios-espelho melhoraram. E isto fez toda a diferença, ele diz. Porque, uma vez que nós humanos melhoramos em aprender uns com os outros, olhando, copiando, ensinando, pudemos fazer coisas que outras criaturas não puderam. Em outras palavras, se você é um urso e o ambiente se torna frio, você precisa de alguns milhões de anos para desenvolver camadas tipo de urso polar, de gordura e pêlo. Levaria muitas, muitas, muitas gerações de ursos para selecionar ursos mais peludos, mas, diz Ramachandran, se você é humano, você observa seu pai matando um urso e vestindo um casaco de pele, sabe, forrando, usando-o como um casaco. Você observa, aprende instantaneamente. Seus neurônios-espelho começam a disparar instantaneamente no seu cérebro e você executa a mesma seqüência, seqüência complicada. Em vez de ir através de milhões de anos de evolução, você fez isso em uma geração.

Entretanto, por enquanto ninguém está declarando que os neurônios-espelho são o ingrediente chave que nos faz diferente das outras criaturas, o que estes neurônios realmente sugerem sobre nós parece quase auto-evidente. Você pode ver isto em qualquer domingo num bar de esportes, que na profundeza de nossa arquitetura, no fundo de nossas células, somos construídos para estar juntos.

Conforme Glaser, não haveria nada de mais em ter um sistema espelho se você vivesse sozinho. Teria muito a ver em ter um sistema digestivo se você vivesse sozinho. Teria a ver ter um sistema de movimento se você vivesse sozinho. Teria a ver ter um sistema visual se você vivesse sozinho, mas não teria nada a ver ter um sistema espelho. O sistema espelho é o sistema cerebral social mais básico. É um sistema cerebral que não existe razão em ter se você não quer interagir ou se relacionar com outras pessoas.

Nós gostamos muito de interagir. E talvez agora, como nunca antes, vamos entender... o porquê.


Um comentário:

  1. Caro Jeferson:
    Fiquei encantado com a abordagem que fazes em O ABC do Girafês. Fui Policial Militar durante mais de duas décadas e tenho certeza de muitos problemas gerados entre as "partes" que se envolvem em ocorr]êencias não se transformariam em registros e estatísticas policiais se as pessoas tivessem lido teu livro. Sucesso.
    Ricardo Carvalho de Moraes

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