quinta-feira, 18 de junho de 2009

Por que as pessoas gritam?

Um dia, Gandhi fez a seguinte pergunta para as pessoas:

-Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

- Gritamos porque perdemos a calma, disse uma delas.

- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?

Questionou novamente o pensador.

- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outra pessoa.

E ele volta a perguntar:

- Então não é possível falar-lhe em voz baixa?

Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu Gandhi.

Então ele esclareceu:

- Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecida?

O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito.

Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente.

Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro,

através da grande distância.

Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas?

Elas não gritam. Falam suavemente.E por quê?

Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.

Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram.

E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar,

apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem.

É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.

Por fim, conclui, dizendo:

"Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras

que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta"

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Sucesso, segundo Viktor Emil Frankl

Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transfomarem num alvo, mais vocês vão errar. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser.


Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira posível. E então voces verão que a longo prazo - estou dizendo a longo prazo! - o sucesso vai perseguí-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Povo Sonho


No meio da névoa encoberta das montanhas da Malásia Central, vive o extraordinário senoi - o Povo Sonho. A tribo senoi é uma cultura única e admirável que tem sido um quebra-cabeça para os antropólogos desde os anos 30. É um povo completamente pacífico. Eles não têm sistema nu­mérico, linguagem escrita nem nenhuma tecnologia. Ainda as­sim, entre eles há cientistas surpreendentes com alto nível de sofisticação mental, social e bem-estar emocional.

Esse povo admirável é mestre no que nós, no Ocidente, chamamos de "resolução de conflitos". O segredo deles está ligado, de algum modo, ao fato de que a vida diária senoi ba­seia-se inteiramente em seus sonhos. Apartir do momento em que uma criança senoi pode falar, aprende a sonhar e a proje­tar a vida nos sonhos para dominar as forças que eles revelam.
Os sonhos são a verdadeira inspiração e fé dos senoi, pois eles acreditam que os sonhos revelam a mais profunda realida­de, a "palavra do espírito", da qual os eventos que experimen­tamos se originam.

Os pais senoi encorajam seus filhos a viajar por localidades específicas em seus sonhos - como as florestas que existem na região - para ver se a pesca ou a caça serão boas no dia seguinte.Espera-se que as crianças projetem suas almas além das fronteiras normais, pois eles acreditam que isso as torna carismáticas e fortes. Por outro lado, o medo conduz a alma de uma pessoa para o seu corpo o mais profundamente possível, o que, para os senoi, é uma condição desfavorável, que conduz à doença. Os senoi ensinam suas crianças a soltar os medos re­primidos através dos sonhos, que funcionam como uma "válvu­la emocional segura". Eles acreditam que qualquer coisa expe­rimentada num sonho pode ser usada com vantagem ou desvantagem, desde que o sonhador seja sábio o suficiente para saber usá-Ia.

A educação extensiva do sonho que as crianças senoi re­cebem em seus primeiros anos de vida tem produzido uma so­ciedade na qual os sonhos desempenham uma posição central na interação com os adultos. Eles são seriamente discutidos nos conselhos dos vilarejos, e decisões sobre onde e quando a terra deve ser semeada não são tomadas até que seja permitido sonhar com isso.
Quase toda a arte senoi, incluindo música, dança e deco­ração, é inspirada pelos sonhos, assim como a religião senoi. As crianças são planejadas e têm seu nome escolhido através dos sonhos, que desempenham também um papel importante no diagnóstico e tratamento das doenças. Os jovens encontram suas esposas primeiro em sonhos, e assim que ficam sabendo quem é ela e onde está viajam para encontrar a garota de seus sonhos!

Os senoi são "animistas" que acreditam que tudo na sel­va abundante a seu redor tem uma essência espiritual viva. Eles não vêem a si próprios como geradores de consciência, como nós, no Ocidente, mas sim como "canais" da essência vital, que é muito maior que qualquer indivíduo. A consciência é consi­derada mais importante que tempo, espaço ou matéria. E a base dessa crença é a evidência real dos sonhos, pois eles po­dem, muitas vezes, revelar uma visão do futuro ou um evento muito distante para ser conhecido por meios normais.

Talvez a característica mais impressionante dos senoi seja a timidez. Senoi simplesmente significa "gente", e os antro­pólogos acreditam que eles sejam os últimos remanescentes de uma cultura antiga de uma sociedade sofisticada que se esten­deu por todo o Sudoeste da Ásia, mas foi pressionada para o interior das montanhas devido a invasões de povos agressivos e mais avançados tecnologicamente.Os senoi são pessoas extremamente gentis que abomi­nam a violência e têm um grande orgulho ao dizer: "Nunca sentimos raiva, somente os estrangeiros sentem raiva". Eles evi­tam os estrangeiros e a confrontação, retirando-se para o inte­rior da mata para sonhar.

Como quase nenhuma violência ou crime existe em sua cultura, os senoi nunca tiveram necessidade de criar um siste­ma de autoridade. Qualquer disputa (geralmente em relação às mulheres) é ouvida por um grupo selecionado para julgar o assunto tão rápido quanto possível. A única idéia tradicional de status é o título de "Tohat", ou curador. As crianças senoi não tomam parte em jogos competitivos, mas brigam e brincam como qualquer criança.

Pesquisadores acreditam que o equilíbrio psicológico extraordinário que caracteriza a sociedade senoi se deve ao fato de que as pessoas são criadas para apreciar a força fundamen­tal e psicológica que os sonhos revelam. A falta de conflitos na sociedade senoi é atribuída à sua técnica de dissipação de ten­são social em seus sonhos, que impede que essa tensão se ma­nifeste durante as horas em que estão acordados.

Os senoi são de uma gentileza fora do comum durante as horas em que estão acordados e acreditam que a violência nos sonhos não é ruim, pois matando as imagens que causam o terror eles destroem seu poder de ferir. Dados psicológicos de vários grupos revelam uma habilidade considerável para con­quistar "inimigos fantasmas" e encontrar "tesouros" em seus sonhos.
O adolescente senoi aprende a tocar o "poder" de seus sonhos através do desenvolvimento de relacionamentos pro­fundos, que duram a vida toda, com os "espíritos" que eles encontram em seus sonhos - os Gurag, ou ajudantes dos sonhos, que são considerados professores e dão aos senoi o dom das canções, das danças e dos poderes especiais.

A prática dos sonhos dos senoi funciona a partir do prin­cípio de que, acordados, criamos imagens de pessoas e objetos que vemos ao nosso redor. Através dessa gratidão pelo uso ati­vo do sonho, os senoi estão constantemente conscientes de que, num certo nível do nosso ser, estamos intimamente conectados com todos e com tudo o que conhecemos. Os senoi acreditam que tudo é vivo, reconhecem que o mundo, como o percebemos, está cheio do nosso próprio espírito e enten­dem que todos nós criamos o mundo que experimentamos. Através de seus sonhos, os senoi encontraram um meio de libe­rar o potencial criativo e ter acesso aos tesouros mais profun­dos da alma humana.

“COMUNHÃO INTERIOR” de Sondra Ray, Editora Gente, 1999

Barreiras que geram conflitos nas comunicações


Dr. Thomas Gordons

Essa é a denominação de uma série de formas de expressão e comunicação que criam barreiras e geram conflito nas relações.

1. Dar ordens, dirigir, mandar, impor, exigir.

“Você deve...”, “você tem que...”

“Vá para seu quarto”.

Reação: Tais condutas podem causar susto, medo ou, então, resistência, rebeldia e desafio. Ninguém gosta de receber ordens ou de ser mandado o que gera também ressentimento. Essas condutas podem romper qualquer comunicação posterior de parte do outro ou provocar uma comunicação defensiva ou negativa. Muitas vezes, os indivíduos sentem-se rejeitados quando suas necessidades pessoais são ignoradas, e humilhadas quando tais condutas acontecem diante de outras pessoas.

2. Admoestar, ameaçar.

“Se você não fizer... então...”

“Se você não parar, vai apanhar”.

São condutas de dar ordens, dirigir..., só que a essas acrescenta-se a ameaça de usar o poder.

Reação: Convidam para que seja dada uma prova, ou lança-se um desafio. Podem conseguir fazer com que o outro obedeça, mas será totalmente por medo. Como no caso anterior, podem surgir ressentimentos, coragem, resistência, rebeldia.

3. Lições de moral, sermões, criar obrigações.

“Você teria..., você deveria..., essa é a sua obrigação..., isso é responsabilidade sua...”. “Não se corta a palavra de alguém”.

Condutas semelhantes à de dirigir e dar ordens, só que se insiste na “obrigação” e encerra vaga autoridade externa. Sua intenção é fazer o outro se sentir culpado, preso ou obrigado.

Reação: As pessoas sentem a pressão dessas mensagens e freqüentemente mostram resistência e desentendimentos. Essas mensagens passam a idéia de falta de confiança: “Você não é inteligente o suficiente”, ou então, “Você não é responsável”. Querem impor uma autoridade externa. As pessoas muitas vezes respondem com frases do tipo “quem disse que eu devo...?, ou “por que eu deveria...?”

4. Aconselhar, dar soluções.

“O que eu faria no seu lugar...”

“Por que você não termina de uma vez por todas essa relação?”

“Eu garanto a você que...” “Seria melhor se você...”

Reação: Não é verdade que as pessoas sempre queiram um conselho. O conselho, a advertência, passa a idéia de “superioridade” e podem provocar no outro uma sensação de inadequação e inferioridade. Costuma-se responder à advertência e ao conselho com resistência e rebeldia: “Eu não quero que você diga o que eu tenho que fazer”. Até as crianças muitas vezes mostram ressentimento diante das sugestões dos adultos: “Deixe-me pensar sozinho”. Por outro lado, não seguir o conselho dos adultos pode provocar culpa nas crianças. Se o conselho de outros não parecer sensato, o interessado terá que argumentar contra e dedicar tempo a isto em vez de pensar em encontrar suas próprias soluções. O conselho pode tornar o outro um ser dependente, não promove seu próprio pensamento criativo. O interessado pode, simplesmente, responder com o sentimento de que o outro não entende: “Como você pode sugerir isso; você não sabe como eu estou assustado”. Também pode responder: “quando eu quiser um conselho seu, pedirei”. Se o conselho estiver errado, o outro terá que assumir a responsabilidade ou fugir dela: “Eu segui o seu conselho, mas não era essa minha idéia ou intenção”.

5. Persuadir com lógica, argumentar, dar lições

“Você não percebe...?” “olhe que você está enganado...”,

“O fato é que...”, “Sim, mas você deve entender que...”

“Os livros são feitos para serem lidos, não para serem jogados”.

Reação: Essas condutas provocam defesas e muitas vezes levam a uma contra-argumentação. Também podem provocar sentimentos de inferioridade no outro devido à manifestação de superioridade daquele que argumenta. A persuasão freqüentemente faz com que o outro defenda sua própria posição com maior força e que possa sentir: “Você sempre pensa que está com a razão”. O fato de estar com a lógica do nosso lado nem sempre provoca uma maior obediência ou aceitação dos outros. O sentimento que freqüentemente provoca é: “Ele consegue fazer-me sentir um tolo”:

6. Julgar, criticar, censurar.

“Você é mau”, “como você é frouxo”, “Você está agindo como um louco”.

Reação: Mais do que qualquer outro tipo de mensagem, este deixa a outra pessoa desconfortável, inferior, incompetente, má, tola. Também pode fazê-la sentir-se culpada. Muitas vezes, responde na defensiva; ninguém gosta de estar enganado. Este tipo de avaliação quebra a comunicação: “Se vou ser julgado, não vou dizer o que sinto”. No caso de crianças, pelo tamanho psicológico e a idade dos adultos, os filhos aceitam tais julgamentos como se fossem dogmas: “Eu sou muito mau”. A avaliação dos adultos produz e configura a auto-estima e a auto-imagem para sua vida futura: “eu não sou bonita”. Outra resposta das crianças a estas condutas dos adultos é que elas começam a avaliar os pais.

7. Elogiar, aprovar, avaliar positivamente, Felicitar, Bajular.

“Você é muito bom”, “Você fez um ótimo trabalho”, “Este desenho está muito bom”, “Está aprovado”, “É assim que você deve agir”.

Reação: A avaliação positiva e o elogio nem sempre terão os efeitos que imaginamos. Se avaliarmos sempre positivamente, o outro deduz que também poderá ser avaliado negativamente. Por tanto, a ausência de julgamento positivo numa situação particular poderá ser interpretada como um julgamento negativo: “Você não disse nada sobre o meu trabalho hoje; certamente não gostou”. Também, uma avaliação positiva que não estiver de acordo com a própria avaliação do outro poderá ser ameaçadora para ele, ou percebida como falsa. Muitas vezes, o outro sente os elogios como manipulações: “você está dizendo isso para que eu trabalhe mais”.

Freqüentemente, o elogio impede a comunicação da outra parte: “Vocês não entendem como me sinto”. Além disso, o elogio classifica aqueles que o fazem como “seres superiores”; o direito de avaliar o outro traz implícita a idéia de que “eles sabem o que é bom ou mau”.

8. Ridicularizar, envergonhar, pôr apelidos.

“Você ainda é uma criança”, “idiota”, “o que o senhor mandar”. “você deveria ter vergonha”.

Reação: Essas mensagens têm um efeito devastador: destroem a imagem que o outro tem de si mesmo. Podem fazer com que a pessoa se sinta sem dignidade, má, abandonada ou rejeitada. Uma resposta freqüente a essas mensagens é virar às costas, física ou moralmente a quem as emite. “E você é um resmungão”, “Veja quem fala”

“Vou acabar indo embora”.

9. Interpretar, analisar, diagnosticar.

“O que você precisa é...”, “O que está errado com você é...” ,“Você está tentando chamar a atenção”, “O que você realmente quer dizer é...” ,“Eu sei do que você precisa”, “Seu problema é...”, “você está com ciúmes dessa mulher”.

Reação: Dizer ao outro o que está realmente sentindo, quais são seus verdadeiros motivos ou por que está agindo de uma forma determinada, pode ser muito ameaçador. “Ele sempre pensa que sabe o que estou sentindo”.

Desempenhar o papel de psicanalista dos outros é perigoso e frustrante para eles. Se a análise estiver errada, o outro se fechará. Se estiver correta, vai sentir-se exposto publicamente, nu, preso. A mensagem: “Eu sei o que você precisa” passa a idéia de superioridade, de saber mais do que o outro. As pessoas se tornam ressentidas e coléricas quando outro interpreta seus motivos e seus pensamentos. As interpretações freiam a comunicação, já que desanimam o outro a falar mais sobre si mesmo.

10. Consolar, amparar, animar, tranqüilizar, mostrar-se solidário.

“Vamos, isso não é tão ruim...”, não se preocupe, você vai sentir-se melhor”, “seu problema vai acabar se resolvendo sozinho”, “não foi nada, vai passar.”

Reação: Paradoxalmente, também estas mensagens podem ter efeitos negativos. Reforçar o outro pode fazer com que ele se sinta incompreendido: “Sim, para você é fácil dizer isso, mas você sabe como eu tenho medo”. As mensagens de amparo e apoio podem também dizer ao outro: “Não quero você fraco ou inadequado. Eu não consigo aceitar esses sentimentos” Se as coisas não mudam favoravelmente para a pessoa, ela poderá sentir-se ressentida em relação às tentativas do outro de alentá-la e perceber isso como uma maneira de enganá-la. Dizer a uma moça que se sente pouco atraente para os rapazes que ela é muito bonita, poderá provocar fortes sentimentos de hostilidade; inclusive poderá fazê-la perder a confiança no outro: “Você está dizendo isso somente para que eu me sinta melhor, mas não está sendo sincero”.

11. Perguntar, questionar, sondar

“Por que...?”, “Quem?”, “Onde”, “Como?”, “por que você fez uma coisa dessas?.”

Reação: A resposta das pessoas diante de questionamentos é, geralmente, ficar na defensiva ou “no banco dos réus”. Muitas perguntas são ameaçadoras porque a pessoa não sabe o motivo de todas aquelas indagações. “Onde você está me levando?” Sente que o interrogador é um indiscreto, um “metido”. Perguntar pode comunicar falta de confiança, suspeita ou dúvida sobre a habilidade do outro: “Você não precisa perguntar se eu sei como deve ser feito, já fiz isso antes”. Algumas perguntas do tipo sondagem fazem que a pessoa sinta que está sendo pressionada para que possam tirar alguma conclusão contra ela. Quando alguém faz perguntas, pode dar a impressão de estar acumulando informações para poder resolver o problema sozinho: “Se eu disser aos meus chefes o que eles perguntam, então terei que escutar suas respostas”. As perguntas restringem drasticamente a quantidade de informação que os outros poderiam dar se somente fossem estimulados a falar espontaneamente.

12. Distrair, desviar, fazer piadas.

“Não falemos disso na mesa”, “isso me faz lembrar...”, “por que você não põe fogo no escritório?”, “Acordou com o pé esquerdo?”.

Reação: Essas mensagens podem comunicar ao outro que não se está interessado nele, que seus sentimentos não são respeitados. Em geral, somos muito sérios quando precisamos falar de algo pessoal. Quando a resposta é em tom de brincadeira pode machucar ou provocar um sentimento de rejeição. Distrair o próximo de seus sentimentos pode parecer oportuno no momento, mas os sentimentos não desaparecem. Muitas vezes, eles ressurgem mais tarde. Os problemas deixados de lado raramente são problemas resolvidos. As pessoas querem ser ouvidas e compreendidas com respeito. Se as deixarmos de lado, aprenderão logo a levar para outro lugar seus problemas importantes e a guardar seus sentimentos.

13. Fingir, mudar de assunto, tratar levianamente.

“Olha que lindo dia!”

A canção dos Homens

Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a “canção da criança.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção.
Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe cantam sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção.
Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, igual como em seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na “viagem”.
Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então lhe cantam a sua canção.
A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.
Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém.
Teus amigos conhecem a “tua canção” e a cantam quando a esqueces.
Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as escuras imagens que mostras aos demais.
Eles recordam tua beleza quando te sentes feio; tua totalidade quando estás quebrado; tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.

Tolba Phanem

As marcas cerebrais dos maus-tratos na infância

Estudo mostra que abusos sofridos na infância mudam a maneira de o cérebro humano responder ao estresse

Somos produto do meio, ou de nossa biologia? "Dos dois", é a resposta à qual a ciência chegou; o debate entre natureza e ambiente há tempos se tornou, felizmente, irrelevante. Hoje reconhecemos que, se por um lado nosso comportamento é fruto do funcionamento do cérebro que temos, este por sua vez depende da combinação de nossa biologia com história de vida - ou seja, com o meio social e acontecimentos pelos quais passamos.

A questão agora é como as experiências de vida afetam o cérebro, às vezes de maneira a deixar traços que duram pelo resto da vida. Dois tipos de experiências opostas com esse poder são a violência e o carinho: quando ocorrem na infância, ambas são capazes de modificar o cérebro, em sentidos contrários, por toda a vida adulta - ao menos no que diz respeito à sua capacidade de lidar com adversidades, ou estresse.

Em uma série de experimentos com ratos, Michael Meaney e sua equipe, na Universidade McGill, no Canadá, mostraram que a prole que recebe cuidados maternos - lambidas, no caso - tem respostas ao estresse menores do que proles não lambidas, produzem níveis menores de hormônios do estresse, têm menos probabilidade de sofrer de distúrbios de ansiedade (sim, ratos também sofrem de ansiedade) - e ainda se tornam mães carinhosas com sua própria prole, quando chega sua vez. Ratos que recebem carinho na infância gozam de respostas mais saudáveis ao estresse na vida adulta - e passam adiante à o carinho que receberam.

O efeito do carinho materno sobre o cérebro envolve a ativação por serotonina de neurônios do hipocampo, o que leva à maior produção de um fator de transcrição que aumenta a produção de receptores para hormônios do estresse. Com maior sensibilidade a esses hormônios, o hipocampo, em um mecanismo de auto-regulação por retroalimentação negativa, consegue inibir a resposta do cérebro ao estresse e impedir que ela se torne exagerada.

A produção de mais receptores também depende, contudo, de metilação - um tipo de modificação epigenética permanente do DNA, que não altera o código genético (a sequência de bases) mas muda como ele é usado. Por mecanismos ainda não conhecidos, o gene que determina a produção de receptores para hormônios do estresse quase nunca é metilado em animais que recebem carinhos maternos na infância. Sem metilação, grandes quantidades de receptor são produzidas; o hipocampo, assim bastante sensível ao hormônio do estresse, é capaz de inibir rapidamente respostas exageradas ao estresse; e o animal fica, então, protegido (mas não invulnerável!) contra efeitos adversos do estresse crônico ao longo da vida.

Sem carinho materno, no entanto, o DNA do receptor de hormônios do estresse é metilado - e poucos receptores são produzidos. Resultado: respostas intensas do cérebro ao estresse, maior vulnerabilidade a adversidades - e maior chance de sofrer de distúrbios associados ao estresse ao longo de toda a vida.

Tudo isso já foi bem demonstrado em ratos. Como níveis mais altos de hormônios do estresse são encontrados em humanos adultos que sofreram violência na infância, bem como uma maior vulnerabilidade a distúrbios de ansiedade, de humor, esquizofrenia e suicídio, era provável que as mesmas modificações epigenéticas que ocorrem no cérebro de ratos que não recebem carinho acontecessem no cérebro humano vítima de maus-tratos na infância.

A comprovação chegou agora: em estudo publicado em fevereiro de 2009 na revista Nature Neuroscience, o grupo de Michael Meaney comparou a metilação do DNA do receptor de hormônios do estresse e os níveis desse receptor no hipocampo de pessoas vítimas de suicídio que foram vítima de abusos sexuais, físicos ou negligência na infância, e compararam com vítimas de suicídio sem tal histórico, e pessoas que morreram subitamente de outras causas. Resultado: as primeiras, e somente elas, mostravam menor expressão do receptor - e metilação aumentada do DNA correspondente. A modificação não é, portanto, associada ao suicídio ou aos fatores de estresse que devem levar a ele; mas é muito provavelmente associada ao histórico de maus-tratos na infância.

É particularmente notável que o resultado do comportamento alheio - carinho, falta dele ou violência - sejam modificações no cérebro que resultam em mais do mesmo comportamento. Seja tratado com negligência ou violência na infância, e seu cérebro muda o modo de usar seu DNA de uma maneira tal que ele será mais propenso a ser, ele também, violento quando adulto. Ao contrário, receba carinho na infância e seu cérebro muda o modo de usar o DNA de uma maneira que o protege de adversidades e o deixa, ele também, mais carinhoso quando adulto.

E pensar que, quando eu era criança, a cartilha do pediatra Benjamin Spock - e de tantas mães - ditava que os bebês fossem deixados a chorar em seus berços, porque "carinho demais mima e faz mal". Que bom que minha mãe não deu ouvidos a ele... (SHH, março de 2009)

Fontes:

McGowan PO, Sasaki A, D'Alessio AC, Dymov S, Labonté B, Szyf M, Turecki G, Meaney MJ (2009) Epigenetic regulation of the glucocorticoid receptor in human brain associates with childhood abuse. Nature Neuroscience 12, 342-348.

Hyman SE (2009) How adversity gets under the skin. Nature Neuroscience 12, 241-242.

Fonte:http://www.cerebronosso.bio.br/novidades/2009/5/13/as-marcas-cerebrais-dos-maus-tratos-na-infancia.html

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O mundo mais violento

Fonte: Jornal Zero Hora, 03 de junho de 2009

O subproduto mais deplorável da crise econômica mundial é o aumento da violência. Esta é uma das conclusões de um estudo elaborado por uma das unidades do grupo que edita a revista The Economist e que elabora o Índice da Paz Global. Com base nos dados de 2008 um ano que viu, primeiro, a crise do preço dos alimentos e dos combustíveis e, depois, o nascimento da maior crise dos últimos 80 anos , o relatório afirma que o enfraquecimento econômico propiciou mais instabilidade política, manifestações violentas e criminalidade, gerando focos de perturbação social e institucional em numerosos países. A crise fez o mundo mais violento, num processo que ainda não se esgotou. Para o relatório, o desemprego em rápida expansão, o congelamento dos salários e a queda no valor dos imóveis, poupanças e pensões está provocando um ressentimento popular em muitos países, com repercussões políticas.

No ranking da paz, o país menos violento passou a ser a Nova Zelândia. No ano anterior, havia sido a Islândia, país agora gravemente afetado pela crise, que recuou para a quarta posição. E os mais violentos são Iraque, Afeganistão e Somália. O Brasil melhorou cinco posições, sendo agora o 85º de uma lista de 144 países, muito próximo dos Estados Unidos, que figuram em 83º. O índice da paz é utilizado por numerosas agências internacionais, entre elas o Banco Mundial, o Instituto de Estudos Estratégicos e vários órgãos da ONU. Importantes personalidades, em especial ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, figuram entre as que consideram o índice e o ranking dele decorrente como instrumentos políticos de valor expressivo para a busca de melhores condições sociais globais.

Com base na respeitabilidade que o estudo adquiriu, cresce de importância a conclusão expressa claramente no relatório deste ano: as condições econômicas e a prosperidade têm forte correlação com a paz. “A paz é um importante indicador da prosperidade econômica”, afirma o criador do índice, Steve Killelea. Se, no julgamento de um pequeno grupo social, não se pode concluir que há necessariamente nexos causais entre pobreza e violência, no atacado do comportamento dos povos tal relação é visível – e assustadora. Para adotar conclusões sobre a paz nos países e no mundo, paz entendida como ausência de violência, o índice leva em conta 23 indicadores qualitativos e quantitativos, internos e externos. Entre os indicadores internos, estão dados sobre homicídios, percentagem da população encarcerada, disponibilidade de armas de fogo e o nível da criminalidade organizada. Entre os indicadores externos, incluem-se o tamanho dos arsenais e dos exércitos, a exportação e importação de armas, as vítimas nas guerras e as relações com os vizinhos.

A conclusão de que as crises podem ser incentivos a um ambiente de maior violência deve servir como alerta para que a sociedade e os governos trabalhem no sentido de enfrentar esses efeitos maléficos com propostas e ações capazes de atenuá-los ou até eliminá-los.

Violência, Não-violência e Paz - Divaldo Franco

A coisa mais importante é a paz, porque quando se perde a paz não se tem mais nada. A paz de verdade que não tem aparência exterior, é a coisa mais importante do mundo. E a paz somente se estabelece no coração dos homens quando não há nenhuma marca de violência, de agressividade. Como disse Jesus, “Eis que eu vos dou a minha paz”. Mas eu não a dou como o mundo a dá, doa, como sabem que eu a posso oferecer? Significando que a paz que desfrutamos é a paz dos charcos e dos pântanos, que na superfície tem águas paradas e na profundidade tem miasmas, a morte, a manifestação deletéria, destrutiva.

A paz do Cristo resulta daquilo que Sócrates estabeleceu na sua maravilhosa mensagem filosófica, idealista, de três fatores essenciais: uma conduta reta, um coração pacificado e uma consciência tranqüila. Porquanto, somente pode ter uma consciência tranquila quem tem uma conduta reta, e somente há serenidade do sentimento ou do coração quando estes dois fatores, conduta e mente estão em harmonia.

Há um velho ditado: “Aqueles que expressam muita violência são pessoas profundamente covardes”. A característica do criminoso é que ele mata porque tem medo de morrer, e ele agride porque não tem coragem de enfrentar.

Na língua portuguesa há duas palavras que se confundem: agir e reagir, só dois verbos. Todos nós costumamos dizer: “Quando alguém me diz alguma coisa negativa eu reajo”, e revela que é um animal, porque reagir é dos animais, é do instinto. Quem pensa não reage, quem pensa age, toma uma atitude, reflexiona, mede os prós e os contra, mas aqueles que não raciocinam, imediatamente reagem. Se pisarmos a pata de um animal, ele escoiceia ou morde. Se pisarmos no pé de um homem, ele deveria pedir para tirar, mas, às vezes, escoiceia ou morde.

Todo covarde se mascara de violento e todo aquele que se arma exteriormente é porque é desarmado interiormente.

A violência é nada mais nada menos que a ausência do amor. É o amor que enlouqueceu. Porque na paisagem da terra, tudo é amor. O ódio é o amor que enlouqueceu; a indiferença é o amor que morreu; o sexo é o amor que se brutaliza; a fraternidade é o amor que se irmana; e o amor, amor é Deus dentro de nós, desdobrando-nos as possibilidades para alcançarmos a área das nossas melhores realizações.

A violência, no entanto, está presente em nós. Herdeiros atávicos da vida animal, temos, como dizem os psicanalistas, principalmente a doutrina freudiana, os instintos agressivos. Quando não logramos vencer através dos valores éticos, morais, queremos vencer através da força bruta, para dar margem que a nossa inferioridade triunfe e o nosso sentido egoísta predomine. Mas, ao lado desse sentimento de violência, há outro sentimento que jaz adormecido, é a não-violência.

Gandhi, este apóstolo da não-violência, estabeleceu que a nossa violência é tão cruel, que nos movimentos internacionais que fazemos, costumamos dizer que iremos lançar uma campanha contra a violência, e toda a vez que apresentamos uma campanha contra alguma coisa, nós nos armamos e ficamos violentos.

Então, ele sugeria que fizéssemos uma campanha a favor da não-violência. Quando estamos a favor de alguma coisa, desarmamo-nos, mas quando nos pomos contra é que precisamos de violência para combater a violência.

Temos visto nos movimentos de antiviolência internacionais as pessoas provocarem arruaça, badernas, apedrejamentos para manter o equilíbrio da não-violência, e para combater os não-violentos utilizam-se da violência.

Podemos pensar que não temos nada há ver com que as pessoas fazem no mundo exterior, mas temos. Toda a vez que uma pessoa cai, a sociedade cai com ela; toda a vez que uma pessoa comete um crime a sociedade se desequilibra; mas, toda a vez que um indivíduo se levanta, se engrandece, que ele se enobrece, a humanidade se ergue e se torna feliz.

Violência, não-violência, são dois temos da mesma equação.

Como nós estamos armados de cólera. Será isso cultura, civilização? Se perguntarmos genericamente se temos religião diremos que sim, uma religião por hereditariedade, por princípio social, por comodidade, mas somos religiosos? Não!

Porque quando estamos na violência estamos sem Deus. Gandhi costumava dizer: é necessário que o homem se desarme de toda a violência, porque através do amor ele logrará mudar a estrutura do seu comportamento e encontrará a paz. Afirmara o extraordinário pacifista: na hora que alguém resolver-se por ter paz, ele contaminará alguém de paz. Duas pessoas em paz mudam a estrutura de uma casa; uma casa tranquila muda o equilíbrio de uma rua; uma rua pacífica muda psicosfera de um bairro; um bairro de harmonia muda o teor vibratório de uma cidade; uma cidade em paz, só aumenta a paz de um país; e um país desarmando jamais será agredido. Aí está a suíça, passou pela guerra franco-prussiana em 1870, pela primeira guerra mundial de 1914 a 1918, pela segunda guerra, permanecendo absolutamente pacífica, porque não tinha e não tem exército. Se olharmos a Costa Rica, cujo presidente ganhou o prêmio Nobel da Paz, um país sem força, porque a força de um país não está na dimensão de suas armas, mas no valor do seu caráter. Vivemos uma hora agressiva, porque nós somos violentos. Mas violência não é o gesto brutal que chamamos de agressividade urbana, violência não é somente a atitude de esbordoar a pessoa no meio da rua. Violência é o autoritarismos exagerado dentro de casa; a atitude agressiva do nosso comportamento com os empregados; é roubar no preço; é exorbitar nas linhas do nosso comportamento comercial; violência é odiar em silêncio, gerando estados de desequilíbrios que se transforma no tipo epidêmico, que se generaliza; violência é atribuir a si direitos que ao outro nega, fazendo com que o egoísmo predomine.

Que possamos, então, superar a nossa violência com atitudes de pacifismo, que coloquemos em nosso coração a bondade, a bondade é boa para quem a exerce, e em nossa conduta a paciência, a neurose nos destrói, a paciência nos dignifica. E tenha certeza que nada destrói a vida, tenhamos a coragem de reconhecer que o mal está em nós, e através de uma atitude honrada podemos superar.

Resumo de uma palestra proferida por Divaldo Franco.